Edição 40 - Julho/2017 -

Laerte-se: um documentário transformador

Imagine a história de alguém que viveu grande parte da sua vida como homem, assumiu sua transexualidade aos 57 anos e, desde então, experimenta uma jornada única e pessoal sobre o que é, de fato, ser uma mulher. Essa é a sinopse do documentário Laerte-se, a primeira produção original brasileira da Netflix, que retrata a trajetória de Laerte Coutinho, consagrada cartunista que passou a se mostrar ao mundo como mulher, em 2009.

A transição rendeu inúmeras matérias na imprensa na época, incluindo um ensaio nu. Mas Laerte-se vai além e coloca a cartunista no divã, depois de três anos de filmagens.

O filme seguiu Laerte por situações cotidianas – na ida da manicure até sua casa, na companhia do neto que a chama de “avô”, na casa do filho para tentar resolver um problema com seu computador -, enquanto as perguntas das diretoras do longa, Eliane Brum e Lygia Barbosa da Silva, a faziam refletir sobre sua entrada no universo feminino. A proposta da quadrinista era de que o documentário a acompanhasse no processo de implante dos seios, uma dúvida que percorre ao longo do filme.

Por diversas vezes, Laerte respira fundo; em debates sobre a questão de gênero, não sabe o que dizer, se desculpa, mas acaba arrancando risos da plateia. “Estou fazendo uma investigação da mulher que posso ser”, diz.

“O que me surpreendeu foi a capacidade dela de carregar sua interrogação pela vida. Sabia disso, percebia antes mesmo de conhecê-la. Mas não imaginava o quanto era persistente”, comenta Eliane Brum.

O documentário constrói um paralelo entre as indagações da cartunista, autora de Piratas do Tietê e Deus, e suas tiras, que funcionam como um divã – Hugo/Muriel é a reflexão pública de sua transição.

 

Laerte-se: um documentário transformador

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